Um caso chocante ganhou o noticiário nesta semana, com a polícia e o sistema financeiro debruçados em uma investigação que apura a possibilidade de um golpe pouco visto até então: uso de uma pessoa já falecida para contrair um empréstimo.
A ocorrência envolve uma mulher que levou o idoso já sem vida, segundo a polícia, ao banco na tentativa de sacar um empréstimo de R$ 17 mil. A situação ocorreu na terça-feira (16).
Érica de Souza Vieira Nunes foi presa em flagrante por tentativa de furto mediante fraude e vilipêndio de cadáver (crime que se configura quando os restos mortais de uma pessoa não são tratados com o devido respeito). Detida, ela aguarda audiência de custódia, que não havia sido marcada até o fechamento desta publicação.
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A defesa da mulher envolvida no caso afirma que o idoso, na verdade, chegou vivo à agência localizada em Bangu, na zona oeste do Rio de Janeiro.
Para o delegado Fábio Luiz, responsável pelas investigações, o esclarecimento sobre se a vítima já chegou morta ao banco ou morreu dentro da agência pouco interfer no crime investigado.
“Isso interfere pouco na investigação. O próprio vídeo deixa claro para quem está vendo, por imagem, que aquela pessoa está morta. Imagine ela que não apenas está vendo, e está vendo e tocando. Só de ela ter dado continuidade, mesmo com ele morto, isso já configura os crimes pelos quais ela vai responder”, disse o titular da 34ª Delegacia de Polícia (Bangu).
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Fraudes mais qualificadas
Apesar da gravidade do caso, os bancos sabem que sempre estarão no alvo de tentativas de fraudes. A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) diz que, para minimizar os impactos das ocorrências, criou regras de atendimento aos clientes considerados vulneráveis, seja em razão da idade, renda ou nível de endividamento, prevendo o atendimento diferenciado e a oferta de produtos e serviços mais adequados às necessidades e aos interesses das pessoas com este perfil.
As medidas, segundo a entidade que representa os bancos, estão em vigor desde 2021.
“O normativo inclui a capacitação e o treinamento de colaboradores em temas voltados ao atendimento e à proteção e direitos dos consumidores potencialmente vulneráveis, incluindo ações de orientação e informação para prevenção a fraudes e bloqueio de movimentações ou transações financeiras suspeitas, atípicas ou recorrentes, nos casos em que o consumidor se declare em situação de abuso patrimonial”, diz a Federação em nota enviada ao InfoMoney.
Os bancos têm metodologias para analisar toda sua base de clientes e identificar esses consumidores. O normativo também prevê o desenvolvimento de mecanismos para mapear e classificar os diferentes níveis de risco que essas pessoas estão expostas, com ferramentas específicas para protegê-las.
A Febraban também ressalta que os bancos associados “adotam critérios para a concessão de crédito, seguindo as legislações, normativos e boas práticas, incluindo o atendimento a idosos e vulneráveis.”
E não são só os bancos que buscam medidas para mitigar fraudes. O INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) também tem maneiras de comprovar identidades e garantir que os benefícios sejam pagos de maneira correta, como a prova de vida, que pode ser feita de forma online.
Caso foi filmado
No caso que envolve o idoso morto no Rio, a tentativa de fraude para fazer o suposto saque na agência bancária foi registrada em vídeo. Nas imagens, o idoso está pálido e sem qualquer reação ou reflexo, sentado em uma cadeira de rodas, enquanto Érica pede repetidas vezes que ele assine o empréstimo.
A mulher, que informou à polícia ser cuidadora e sobrinha dele, chega a dizer que ele “era assim mesmo”. Os funcionários do banco perceberam que o idoso não reagia a nenhum estímulo e decidiram filmar o atendimento e chamar o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU).
Ao chegar, o médico constatou que o corpo apresentava sinais de que a morte já havia ocorrido há algumas horas. Diante disso, a Polícia Militar foi chamada, e Érica foi encaminhada ao 34ª DP (Bangu). O corpo do idoso será examinado no Instituto Médico Legal (IML), a fim de apurar as circunstâncias da morte. Agentes realizam diligências para esclarecer os fatos.
O que diz a defesa?
A advogada de Érica, Ana Carla de Souza Correa, afirma que o homem estava vivo quando chegou ao banco, e que sua cliente se encontrava em estado emocional abalado e sob efeito de remédios. Em depoimento à Polícia Civil, Érica disse que foi à agência bancária levada por um motorista de aplicativo.
“É uma senhora idônea, que tem uma filha especial que precisa dela. Sempre cuidou com todo o carinho do Seu Paulo. Tudo será esclarecido e acreditamos na inocência da senhora Érica”, disse a advogada. “Existem testemunhas que, no momento oportuno, serão ouvidas”.
*Com informações da Agência Brasil
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