Lendo um texto de Mário Filho (o jornalista que dá nome ao Maracanã), datado de 1955, vejo que ela fala em Domingos da Guia, ou melhor, no esquecimento completo e absoluto de Domingos.

Se em 1955, poucos anos após encerrar a carreira, Domingos estava obscurecido, imaginem hoje.

Pois Mário Filho faz observações ótimas sobre a carreira de Domingos. Quando começou no Bangu, em 1929, o zagueiro nada mais era do que “o irmão de Ladislau”, depois, com a fama, Ladislau é que virou “o irmão de Domingos”.

No texto, Mário Filho lembra a primeira convocação de Domingos para a Seleção Brasileira, isso em 1931, para um jogo contra os uruguaios, nas Laranjeiras. “Embora ele fosse do Bangu ninguém estranhou que o escalassem para o escrete brasileiro” – contou o jornalista.

Domingos da Guia teve uma carreira vertiginosa, começou no Bangu, como não podia deixar de ser – afinal todos seus outros três irmãos jogavam no time da Rua Ferrer -, mas percebeu coisas que seus “manos” não notaram ou não fizeram questão de notar.

Primeiro, o estilo de jogo de Domingos da Guia surpreendeu à crônica e à torcida da época.

Ser zagueiro sempre foi dar uma botinada para qualquer lado, sempre foi espantar o perigo da área a qualquer custo, Domingos percebeu que com sua habilidade poderia jogar em qualquer posição (certa vez, atuando de atacante, chegou a marcar dois gols em cima do Botafogo), mas que ser um zagueiro habilidoso lhe valeria um destaque inédito no futebol até então.

O craque banguense era daqueles que faziam a torcida ter um enfarto a cada lance.

Bola vindo para a área banguense, o garoto com 18, 19, 20 anos parava a pelota, esperava um adversário vir, dava um drible curto e saía jogando. Temerário.

O mais impressionante era essa calma, era o fato de transformar um lance perigoso em uma tremenda tranquilidade.

Vá um Júnior Baiano, um Odvan, um Lúcio fazer o mesmo…

No Campeonato Brasileiro de 2009, um tal de Cláudio Luís, do Náutico, tentou driblar o Petkovic dentro da área. Perdeu a bola e como consequência, deu o gol ao Flamengo, feito por Léo Moura, que pegou o rebote do goleiro após o chute do sérvio. Por isso, Domingos impressionou naquela época e impressionaria ainda hoje.

A outra prova de inteligência de Domingos foi em relação à criação de nome, de fama no futebol.

Domingos percebeu logo que, se ficasse sua carreira toda no Bangu jamais teria projeção.

O Bangu sempre foi um clube de bairro, um clube modesto. Domingos percebeu que, com o seu futebol, poderia galgar espaços inimagináveis. Então, ao final da temporada de 1931, com 20 anos, assinou a inscrição para jogar no Vasco.

Na época, o Bangu não lucrou nada com essa transferência. Não havia o passe. Os jogadores eram estritamente amadores. Houve apenas a desfiliação social de Domingos e o ingresso dele em outro clube. Ladislau não se permitia a isso.

Era do Bangu e pronto.

Além disso, Ladislau era atacante – como tantos outros bons que o Rio de Janeiro produzia naquela época. Tinha o Nilo, no Botafogo; o Russinho, no Vasco; o Preguinho, no Fluminense.

Ladislau era mais um que fazia gols aos montes, numa época em que se atacava com cinco e se defendia com dois.

Como consequência o jogo terminava 5 x 3 e todo mundo achava normal o placar.

Ladislau não estava atrás de fama, não estava atrás de viagens internacionais, era irmão de Domingos, mas era o oposto.

A carreira de Ladislau, a história de Ladislau, o nome de Ladislau está mais esquecido do que o de Domingos pelo fato do “Tijoleiro” ter entregue toda a carreira, praticamente, ao Bangu.

Ladislau negou duas Copas do Mundo: a de 30 e a de 34.

Simplesmente, abriu mão.

Em 1930 foi convocado para o treinamento do escrete, que ocorria nas Laranjeiras. Longe demais para que ele saísse de Bangu e fosse para a Zona Sul. “Ladislau faltou, alegando em justificativa, estar com pessoa de sua família enferma.

Entretanto, não foi este o motivo verdadeiro da falta.

Ladislau não jogou no Scratch para atuar como forward do Oriente, da Liga Metropolitana, no jogo deste com o Santa Cruz” – registrou o jornal A Batalha.

Evidentemente, acabou de fora da viagem ao Uruguai.

Em 1934, o técnico Luiz Vinhaes queria Ladislau na “seleção amadora” que foi para a Itália. Para isso, o atacante – profissional no Bangu – teria que deixar o clube, filiar-se a um time amador (o Botafogo, por exemplo) e assim, poder formar na Seleção. Claro que Ladislau não fez isso.

Enquanto isso, seu “mano” mais novo ia fazendo fama. Foi jogar no Nacional, do Uruguai, voltou para o Vasco, foi para o Boca Juniors, da Argentina, voltou para o Flamengo, assinou com o Corinthians e, enfim, com o passe livre nas mãos, regressou ao Bangu, em 1948, para encerrar a carreira – como numa espécie de gratidão ao clube que o revelou ou como uma espécie de dívida que tinha a pagar com o time da família.

Aos 37 anos, sem a mesma vitalidade (na época, a preparação física era realmente menor que hoje), Domingos tornou-se um zagueiro comum.

Mário Filho chega a citar um drible desmoralizante que Domingos levou de Orlando “Pingo de Ouro”, do Fluminense. Luiz Mendes lembra que um tal de Dimas, do Vasco, passou como quis pelo zagueiro banguense, no Campeonato Carioca de 1948.

“Pois Domingos esperou até levar o baile de Orlando, o ‘Pingo de Ouro’.

Era de cortar o coração ver o Da Guia sendo driblado, e de cair no chão. Talvez Domingos sentisse que deixara de ser o Da Guia” – contou Mário Filho.

Era o fim da carreira. Para manter a fama de grande zagueiro intacta, era melhor parar.

Domingos voltou a Moça Bonita no final dos anos 50, para acompanhar o desenvolvimento do filho, Ademir da Guia.

Adotou com o menino a mesma tática que fez no início dos anos 30: para crescer, ganhar fama, viver bem com o futebol, era preciso deixar o Bangu.

E, enquanto o presidente Maurício César Buscácio não vendeu Ademir da Guia ao Palmeiras, em 1961, Domingos não descansou.

Compreendera bem: afinal que fama tinham, nos anos 60, os irmãos Luiz Antônio, Ladislau e Médio, que basicamente só jogaram no Bangu?

Fato retirado do Grupo Histórias de Bangu, no Facebook


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